quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A estrada


Vejo no horizonte trêmulo o infinito
Por mais longe que meus olhos vêem
Por mais triste que for minha partida
E por fim a alegria de minha chegada

Tantas são as estradas que nossas vidas se entregam
Tanto são os caminhos que elas podem tomar
Mesmo com suas idas e vindas
Por fim algo de bom iremos levar

Mesmo que sofremos com tais caminhos
Ás vezes só o sofrimento pode nos dizer
Se nesses caminhos o que ganhamos e perdemos
Bem La no fundo realmente devia nos pertencer

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Cinco coisas

Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda.

A encrusilhada

Nos separava da estrada
o vidro embaçado de chuva.
Eu estava longe do mundo
folha caída no remanso de seu pranto.

Ela era pequenina e terna
e se fazia ainda menor em meus braços
e mais terna sob meus olhos.
Entre nós dois e a estrada
e a chuva e o vidro da janela
havia dois abismos de prata.

A vida estava ali naufragando em seus olhos
a beleza dormia nos seus seios perfumados
a luz toda a luz me dava a sua boca
a humanidade minha humanidade era ela.

Para além do vidro
para além da chuva
eles passaram…
Separei meus olhos dos olhos dela
para vê-los passar.

Caminhavam pisoteando o barro
os pés descalços
desfilavam os rostos anoitecidos de fome.

E a mãos calejadas de miséria
e as almas curvadas de injustiça
e as vozes amanhecidas de ódio
desfilavam os pés descalços.

Ia a mãe com seu filho na cintura
o velho ruminando penas
e o moço flamejando uma bandeira,
Ian de frente fazendo a vida
harmoniosamente rebeldes.

Não sei se eles me gritaram
ou se fui eu mesmo que me gritei.
Mas nas filas dos que passavam
estavam meu lugar, minha bandeira e meu grito.

O vidro embaçado de chuva
confundia a linha da estrada
por onde se passava.
Voltei meus olhos para ela
que estava quase dentro dos meus braços
e lhe disse:
- Amo-te muito meu amor.

Seus olhos anuviados
separavam-me de sua alma
como o vidro com a chuva
separava-me da estrada.

Disse-me ela lentamente:
- Não vá.

E se fez mais pequenina em meus braços
e me ofereceu sua boca palpitante
e senti junto a mim seus seios trêmulos.

Eu escutava o pisotear do barro
dos pés descalços
e pressentia os rostos anoitecidos de fome.

Meu coração tornou-se um pêndulo
entre ela e a estrada…

"Eu não sei com que forças me libertei de seus olhos
me safei de seus braços.
Ela ficou nublando de lágrimas a sua angústia
por trás da chuva e do vidro,
mas incapaz de gritar-me:
- Espera por mim!
- Vou caminhar com você!"